Seu pai é herói ou bandido?

8 ago , 2021 Psicologia

Martha Medeiros tem uma crônica intitulada “meu herói meu bandido” que trata de relação com nossos pais e o fatídico momento de “cair na real” onde desidealizamos a figura paterna. Vamos conversar sobre isso?

Nem toda relação pai & filho/a é um mar de rosas. Às vezes é um tipo de de relação marcada por conflito, ausência, cobranças e perguntas. Muitas perguntas… Nesses cenários difíceis é muito comum idealizarmos ou romantizarmos a parte da verdade que mais dói. Você já caiu na real ou ainda idealiza o seu pai?

Existem duas formas muito comuns de idealização da figura paterna: o respeito e a expectativa.

“Eu preciso respeitar, é o meu pai!”

O respeito, quando é uma forma de lidar com a parte difícil dessa relação, geralmente é medo. Sabe a diferença entre autoridade e autoritarismo? É a mesma coisa: a autoridade a gente respeita; o autoritário a gente teme. Muitas vezes em nome do respeito ao pai, você acaba convivendo e alimentando uma relação que destrói o seu emocional. Nem todo mundo percebe isso e a forma mais comum de encobrir isso é a expressão “ele é assim mesmo, esse é o jeito dele”. E por respeito você fica debaixo de humilhações e vivendo abuso psicológico. Quando esse respeito te fere não é respeito, é medo. E esse “respeito” te sufoca, te prende e te trava na vida. Conseguir perceber a sutil distinção entre respeitar alguém e temer esse alguém fará toda a diferença na sua saúde psicológica.

“Meu pai tem que fazer/ser/dizer xyz”

Seu pai não “tem que” nada. Ele já te deu a vida e isso é mais do que suficiente. Desobrigue ele de ser quem você gostaria que ele fosse e se liberte para ser você,  sem precisar agradá-lo ou conquistá-lo. Isso cansa e só te frustra. Esse tipo de expectativa na verdade é exigência travestida de desejo. Esperar que ele seja algo para você é alimentar um estrutura emocional muito sutil de dependência afetiva quando a saúde – na vida adulta, está na autonomia. Deixe seu pai ser que ele pode ser para que você tenha sustentação emocional para se diferenciar e viver a sua própria vida independente da aprovação dele. Esperar que ele seja ou faça algo é se dizer a todo momento que você não pode decepcioná-lo. Existem algumas independências que sustentam essa autonomia & liberdade mas isso é assunto para outro texto – ou para a sua terapia pessoal.

O que seria então “cair na real”, deixar de idealizar o seu pai ou humanizá-lo? Vou deixar alguns trechos do texto da Martha Medeiro para nos ajudar nesta reflexão.

Nossas primeiras e mais fortes emoções foram provocadas por ele. A primeira sensação de respeito foi por ele. O primeiro medo foi dele também. Não podemos decepcioná-lo. Ele faz tudo certo. Não permite que façamos de outro jeito. Mesmo que não sejamos mais do que meras crianças, ele exige de nós o melhor que temos a dar. Ele não se contenta com pouco. Ele é o parâmetro. Ele é o cara. Nosso orgulho, nossa segurança.

E um dia surge a desconfiança: será que ele também erra? Essa não. De herói a bandido. Ele, que não quer mais abrir a carteira pra nós. Ele, que todo dia dá sermão. Ele, que faz a mãe chorar. Ele, que implica com todos os nossos amigos. Ele, que reclama do nosso cabelo. Ele, que foi demitido. Ele, que andou bebendo demais. Ele, que teve que ir ao médico. Ele, que não é diferente de ninguém.

Duríssima travessia esta, a que chamamos de “cair na real”.

Até que vem a maturidade e, com ela, os papéis se definem, as proporções ganham sentido e clareza. Ninguém é herói, ninguém é bandido. Ele é um homem. 

***

Nada disso é fácil de perceber, entender e aceitar. Algumas relações doem mas você não precisa viver se machucando. Não sei como esse texto está ressoando aí pois todo mundo sabe que na prática a teoria é outra então por isso não dispense o acompanhamento profissional para cuidar da sua história de vida.

Com Carinho,


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